O Abismo Sob a Cruz (gameplay)
- Tiago Alves
- há 3 dias
- 4 min de leitura
Este é um gameplay, de um relato sendo jogado pela sessão "Monte sua propria aventura...", com o tema de horror cósmico, numa pega LoverCraft. Achei tão legal que decidi converter em um conto das cenas que imaginei e postar aqui.
Fala, galera!
Quem acompanha a revista *Jogador Solo* sabe que ela é repleta de inspiração e jogos para que você possa mergulhar no RPG quase imediatamente.
Uma das adições que venho trazendo ao longo das edições são os *mini jogos*, onde você mesmo cria seu personagem e vivencia cenas relacionadas ao tema da edição. Toda a mecânica se resume a rolar um dado de seis lados, mas, ao usar sua imaginação para interpretar cada resultado e *jogar* a cena, perceberá que a essência do RPG está presente.
Como sempre faço isso não apenas para playtestar, mas também para jogar de verdade, resolvi repetir a experiência mais uma vez—desta vez, na edição que ainda não lancei (até o momento da escrita deste post). Realizei um rápido gameplay, estruturado em tópicos, depois revisei e converti as cenas em uma narrativa de conto com a ajuda da IA *Copilot*.
E ficou assim:
O GAMEPLAY - Faça você mesmo sua propria aventura de Horror Cósmico.
NOME: Padre. Cornélius Vox
CORPO 3
MENTE 2
SANIDADE 6/4
PONTOS DE VIDA 6/3
NIVEL: 2
XP: 1
EQUIPAMENTO: Biblia
CENAS:

confronto contra um cultista, vitoria
confronto contra um cultista, ferimento
confronto contra um cultista, ferimento
confronto contra um cultista, ferimento
confronto contra um cultista, ferimento
nada
equipamento
evento sobrenatural, perdeu um pouco de sanidade
Confronto contra cultista, vitoria
equipamento
Confronto contra um cultista, vitoria
evento sobrenatural, vitoria
As regras:

O conto: O Abismo Sob a Cruz

A névoa engoliu Arkheion ao cair da noite, moldando figuras irreais no limiar entre o que era sólido e o que apenas existia na imaginação febril dos que ali habitavam. Padre Cornélios Vox puxou sua batina para mais perto do corpo, sentindo o suor frio acumulando-se na nuca. Não era a primeira vez que enfrentava o horror, mas nunca antes ele havia sentido um chamado tão profundo. Arkheion sussurrava seu nome.
A cidade estava condenada. Ele percebeu isso assim que cruzou a praça central e viu os rostos vazios dos moradores, como se já tivessem abandonado qualquer esperança de normalidade. Os lampiões tremulavam, suas chamas parecendo vacilar contra uma força invisível. Na igreja onde deveria se instalar, as portas rangiam mesmo sem vento algum, e a cruz sobre o altar já não estava em seu eixo. Pequenas transgressões contra a ordem natural. Pequenos sinais.
Na primeira noite, ele ouviu os cânticos vindos dos túneis abaixo da cidade. Passos ecoavam nas cavernas como batidas de tambor ritmadas por algo que não deveria estar ali. Cornélios desceu os degraus úmidos da cripta com uma vela tremulante em mãos e a cruz firmemente apertada entre os dedos. O cheiro de mofo era sufocante, e ele sabia que estava sendo observado. Quando virou o corredor, viu a figura encapuzada—um homem que já não se parecia com um homem. Os olhos dele reluziam em um espectro de cores que Cornélios não conseguia identificar. A lâmina surgiu debaixo do manto, vindo rápida em sua direção.
Com um reflexo afiado pela fé e pela sobrevivência, Cornélios desviou do golpe, sentindo o aço cortar o ar onde antes estava seu pescoço. O cultista rosnou, sibilando palavras que se enroscavam no ar como serpentes. Cornélios não esperou um segundo ataque. Com a força da convicção, investiu contra o homem e empurrou-o contra a parede úmida da cripta, sua mão pressionando a cruz contra a carne do adversário. O culto não tinha poder sobre ele. O outro gritou antes de silenciar para sempre.
Mas o preço veio dias depois. Outro embate, outra voz sussurrando promessas esquecidas. Desta vez, Cornélios não saiu ileso. A lâmina rasgou seu ombro, queimando como se tivesse sido forjada no inferno. Ele caiu para trás, seu sangue manchando o chão velho da catedral abandonada. O cultista riu, seus dentes longos e errados aparecendo sob a luz pálida da lua. Cornélios se reergueu, ofegante, e agarrou o bastão que jazia no chão ao seu lado. O golpe foi brutal. A cabeça do cultista ricocheteou na pilastra, e o silêncio caiu sobre o recinto.
Na noite seguinte, Cornélios viu rostos que deveriam estar enterrados há muito tempo. Sussurros lamuriavam pelos corredores da igreja, e as sombras se moldavam em figuras familiares. Seus pecados estavam ali, à sua frente, o observando com olhos vazios. A voz de uma mulher emergiu do breu, pronunciando seu nome como se o conhecesse mais profundamente do que ele mesmo. Seus lábios se moveram, mas ele não conseguia compreender as palavras. A única certeza era que aquilo não deveria existir. Ele fechou os olhos e rezou. **A escuridão permaneceu, mas parte de sua sanidade se dissipou para sempre.**
A última noite foi quando o horror finalmente revelou sua face. Não era algo que se podia definir, mas algo que se sentia. A entidade surgiu na igreja, moldando-se na própria arquitetura, fundindo-se com as colunas e os bancos. Cornélios sentiu seu corpo ser esmagado por sua mera presença. Ele não deveria estar ali. Ele nunca deveria ter vindo. Mas ao perceber que a criatura se alimentava de sua própria fraqueza, ele agiu. Ergueu sua cruz, pronunciou palavras que jamais tinha dito antes, e uma luz desceu sobre ele. O horror hesitou. Gritou em um idioma sem vogais. Retorceu-se sobre si mesmo. E então, desapareceu.
Arkheion estava silenciosa naquela noite. Mas o padre sabia que o silêncio nunca era um bom presságio.
Ele nunca deveria ter vindo.
E nunca mais poderia partir.
Comments